sexta-feira, 21 de junho de 2013

20 de Junho e 2013 - o retorno da Prefeitura RJ até à Candelária

Não vou contar uma História (com H mesmo) que o mundo inteiro já está sabendo então estou levando a coisa  para o contexto da  abordagem fotográfica, que não está um "primor de técnica", mas foi como consegui "segurar a onda" e controlar o medo, a horrível experiência de inalar gás de pimenta por diversas vezes, sair da linha de tiro das balas de borracha e ainda controlar foco,  aberturas, a própria proteção do equipamento e é óbvio, da minha vida!

Foi minha primeira experiência fotográfica em situação de extrema adrenalina (eu disse, fotográfica) e estou expondo o material absolutamente sem edição para tentar passar algo verdadeiramente real.

Houve um momento em que me desesperei: estávamos, alguns fotógrafos e manifestantes pacíficos, que estavam ao nosso lado porque desesperados e no raciocínio equivocado deles, achavam-se um pouco mais seguros por estarem ao lado da imprensa. Bem, estávamos exatamente na fronteira dos conflitos e naquele exato momento não havia como retroceder ou avançar. 

A polícia, com sua sutileza de mastodonte e tendo oportunidade de "ouro" como essa, para colocar todo o seu recalque em prática, lançou várias bombas de gás de pimenta em nossa direção, justamente  devido à aglomeração de manifestantes. Isso mesmo, o Batalhão de Choque lançava bombas de gás de pimenta e balas de borracha em cima de adolescentes manifestantes simplesmente por estarem em grupo  e uma delas veio direto com a fumacinha aterrorizante bem na parte superior de minha perna direita. A reação instintiva foi amortiza-la como se estivesse fazendo uma "embaixadinha" para depois chutá-la pra longe. Mas o estrago já estava feito, inalei demais. Uma tontura nauseante que faz você achar que vai morrer. Ainda mais para alguém que faz uso de remédios de controle de ansiedade. Meu camarada fotógrafo Michael Menezes por sorte estava na minha frente: "Michael por favor! Me ajuda!". Agarrei-me às suas costas para não cair no chão. E o Michael começou a gritar pedindo socorro, uma manifestante já veio com uma garrafa d´água e uma outra pessoa lambuzou vinagre no meu rosto. É estranho mas o efeito do gás de pimenta, embora muito ruim, realmente não dura muito, ainda mais com artifícios para o conter. Quando a sensação horrorosa diminuiu percebi que estava do outro lado da "batalha".

Não sou ingênuo e afirmo que a galera que enfrenta os caveirões do Core, do Bobe, do Choque e de tudo quanto é polícia não tem nada a ver com o restante dos manifestantes.


Completamente destemidos (isso é fato), parece que estão ali para encarar o que de pior a polícia tiver para oferecer. E a polícia brasileira por si só, nesse momento, é o pior que tem para ser oferecido  pelo governo ao povo brasileiro, aos vândalos oportunistas, à impressa, aos manifestantes românticos e pacíficos, ao Brasil de uma forma geral, colocando todos num mesmo saco furado e sem nexo.
 
Depois do ocorrido fiz  fotos  ao lado dos  chamados vândalos, mas dali não dá,  é muito sinistro, é "bomba no lombo" o tempo inteiro, sem arrego.

Assumo que sou inexperiente porque tem a coisa de proteger o equipamento e a si próprio ao mesmo tempo. 


Entrei pelas ruas centrais do Centro do Rio, cheio de P2´s escondidos. Tomei uma dura e pensei: meu Deus, quero ir pra casa. Consegui ir andando até o bairro do Estácio e peguei uma condução para a Tijuca. Acordei hoje, ainda na adrenalina (normal não?) e só quero saber de uma coisa: onde será a manifestação de sábado no Rio?

Aprendo com esses acontecimentos que o Povo Brasileiro é muito lindo! Nunca tive tanto orgulho de ter nascido aqui! Minha revolução particular é, finalmente, ter vontade de afirmar isso  com tanto Amor!


Sinceramente agora torço para que a Copa do Mundo de 2014 não se realize mais aqui e se uma Força Tarefa entrar em cena,  será muito triste para todos nós,  emocionados com tudo isso.




Foda-se o governo brasileiro e seus parceiros empresários, foda-se a polícia recalcada, fodam-se todos os partidos de esquerda ou de direita e foda-se a Copa do Mundo de 2014! Eu quero amar e ser amado pelo meu país!

 


texto e fotos
por Maurício Porão

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